O espaço onde se pratica Aikido, e outras artes de origem japonesa, designa-se Dojo, é uma espécie de local de recolhimento onde o praticante procura encontrar-se com os outros e consigo próprio. “Dojo” significa “o lugar da iluminação; lugar onde o eu com egoísmo se transforma em eu sem egoísmo”.
Nas nossas vidas agitadas, que nos levam a correrias constantes contra o tempo para que cumpramos com aquilo que nos é exigido ou para que num só dia façamos imensas coisas, correria essa contrariada por imensos, mas previsíveis contratempos, como as distâncias a percorrer, o trânsito a superar, etc., raramente temos o privilégio de olhar para nós próprios e a nós dedicarmos algum tempo.
Até mesmo os espaços de lazer (jardins, parques, restaurantes, etc.) estão muitas vezes minados de interferências que dificultam esse encontro sossegado conosco e com os amigos ou familiares. À exceção de igrejas não encontramos espaços públicos onde possamos procurar o sossego convidativo à paz de espírito.
No Dojo podemos encontrar isso. Mas, fisicamente, o Dojo é um espaço como outro qualquer: tem quatro paredes, um chão, um teto, além de alguns apetrechos próprios para a prática, entre outros. Por isso é necessário criar o espaço do Dojo à imagem do que se pretende com a prática. É necessário habitar esse espaço conferindo-lhe uma espécie de recheio espiritual. Por outras palavras, é necessário sacralizar o espaço, torná-lo habitável à dimensão duma filosofia (ainda que aparentemente algo indefinida) inerente à prática.
No Dojo temos de nos modificar interiormente ao ponto de nos tornarmos receptivos à aprendizagem. A prática, quando devidamente conduzida, também se encarregará de nos tornar receptivos. Mas algumas atitudes estão apenas dependentes de nós. Temos de querer essa modificação.
O respeito pelo espaço de prática nos educará a senti-lo de outra maneira. Esse respeito ajuda-nos a colocar alguma ordem na agitação mental que habitualmente transportamos, tornando-nos mais aptos para a prática. Simboliza também o respeito por uma prática cujos ensinamentos têm origens milenares, sendo depurados ao longo de gerações com o contributo de sábios e de mestres.
A saudação à entrada do Dojo e/ou à entrada do Tatami simboliza um agradecimento, mas é também um curvar perante nós próprios que significa, ainda, a aceitação das regras. A saudação à entrada marca também um corte com o exterior e a passagem para um breve recolhimento. A partir desse instante não há mais lugar ao falatório nem à discussão desenfreada. O trabalho no Tatami não pode, de modo algum, ser uma continuação ou um espelho dos anseios e dos problemas que trazemos de fora. Tudo isso são empecilhos que devem ser deixados lá fora, pois dificultam a criação de um ambiente diferente, propício à aprendizagem.
O cerimonial reforça essa entrada num ambiente, numa prática e numa relação específica com os outros. É o aceitar e criar, agora em conjunto, as condições necessárias à aprendizagem. É ao mesmo tempo um sedativo.
O cerimonial do final da aula (e depois dele, a saudação à saída do Tatami e/ou do Dojo) marca simultaneamente um corte e uma continuidade. Um corte na medida em que se trata do desfecho da aula; uma continuidade porque se pretende que as aprendizagens efetuadas não se restrinjam a essa aula, mas que sejam interiorizadas e transportadas, com serenidade, para fora dela e invadam as nossas vidas cá fora.
A saudação ao Tokonoma, executada durante o cerimonial, simboliza a aceitação e o agradecimento ao fundador do Aikido e a todos os que contribuíram para o aperfeiçoamento e depuramento de uma prática cujas raízes se enterram muitas gerações atrás de nós. A decoração simples e discreta do Tokonoma deverá contribuir para a paz de espírito que se pretende com a prática.